21 outubro 2009

Sousa Lara II

O euro deputado do PSD, Mário David, escreveu no seu blog: “José Saramago, há uns anos, fez a ameaça de renunciar à cidadania portuguesa. (...) Hoje, peço-lhe que a concretize... E depressa! (...)". Edite Estrela respondeu no Parlamento Europeu: “Isso é uma atitude inquisitorial”. Claro que sim, é um pensamento inquisitorial dos tempos modernos. Uma coisa é Saramago ter ameaçado com a renúncia à cidadania portuguesa, ele fará o que entender com a sua falta ou não, de apego a esta parte da jangada e a mim sinceramente pouco me importa desde que revelou a sua iberofilia, outra, é um português não poder pronunciar-se livremente sobre religião, independentemente de concordarmos ou não com o que diz, sem correr o risco de ser afrontado por estes novos guardiões do Santo Oficio. É preciso lembrar que foram mecanismos de pensamento como estes que lavaram à fatwah islâmica sobre o autor dos cartoons de Maomé. Mais um passo e a atitude é idêntica. Mário David diz que as declarações de Saramago são uma forma de vilipendiar povos! Vilipendiar povos?! Ou parte de povos, se assim o sentirem? Porque é que me inclui nesse número absoluto que julga? Ele desconhece a secularidade do nosso Estado ou tem aspirações a que isto se transforme numa teocracia? Se Mário David perguntasse o que nos levou afastar da fé, talvez tivesse uma surpresa e não falasse em vilipêndios. Não lhe passei procuração para me defender, presumindo que quando escreve vilipendiar povos, se refere também ao povo português.

Isto não significa que eu tenha concordado com as declarações de Saramago.
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2 comentários:

Alexandre de Castro disse...

Amigo Grazina:
As estruras sociais e alguns indivíduos deste país ainda não se libertaram do peso secular de 300 anos de Inquisição e de meio século de ditadura.
Por sua vez, a ICAR continua a encenar virtualmente os métodos do Santo Ofício e, se pudesse, gostaria de prolongar a representação em todos os rossios, onde acenderia as fogueiras para o festival do churrasco.

Graza disse...

Desnecessárias ou não as declarações de Saramago, vão valendo para que esta gente perceba que cada um de nós já vai pensando com a sua própria cabecinha e não precisamos de tanta interpretação para o que vamos lendo. A erudição já saíu dos claustros há muito.