A propósito deste grande texto de Daniel Oliveira, no Arrastão mas também no Expresso, Uns gananciosos, estes trabalhadores.
Quando isto era uma Monarquia, havia formalmente instituído uma divisão política e social formada pelo Clero, a Nobreza e o Povo. A Nobreza tinha sobre a populaça uma prioridade de tal ordem e tão injusta que acabou por levar à Revolução Francesa, com reflexos em todo o mundo e foi de tal forma, que hoje quando dizemos Idade Contemporânea é ao período que começou a partir da Tomada da Bastilha a que nos referimos. Era injusto, que por artes de um sistema de organização vindo do fundo dos tempos negros da Humanidade, o povo servisse a uma classe cheia de privilégios e direitos que lhes vinham agarrados ao umbigo.
Os tempos que agora vivemos, começam, pela atitude de alguns políticos e gestores a parecer-se com aqueles, porque espanta a desfaçatez com que uma classe de dirigentes se sente no direito de concentrar em si valor de tantos milhões pelo trabalho que produz, e ao mesmo tempo, inverter o raciocínio quando pensa nos trabalhadores, achando por outro lado que as suas escandalosas regalias salariais não podem ser mexidas quando o Estado precisa de todos. Perdem mesmo a vergonha e assumem-no dando a cara. Ora, esta presunção de pertença a uma casta é o equivalente ao período que antecedeu a Revolução Francesa, que para além de falar de Liberdade, falava também de Igualdade e Fraternidade. Quando vemos as hordas que começam a manifestar-se por essa Europa e a pô-la a ferro e fogo, é nisto que pensam, é este sentimento de injustiça que as atiça e revolta, e à luz da Comunicação Social esta realidade não é convenientemente explicada. Agora, outra vez, a tal Nova Classe que deixamos imergir por falta de informação, olha para esta gente com o mesmo espanto dos Nobres, quando começaram a rolar as cabeças numa das mais espantosas revoluções da Europa. Que se cuidem, estão demasiado expostos se a loucura tomar conta delas.
9 comentários:
Essa tal Nova Classe é bem a prova de que isto de fazer rolar cabeças não dá grandes resultados! ...Pelo menos, não é suficiente e aparentemente, pouco civilizado. Já que é disso que se trata. ...Somos ou não civilizados?!
Na altura da revolução Francesa, achou-se por bem decapitar loucos. Julgava-se que assim se poderia acabar com a loucura. Mas, a loucura está por todo o lado! Bem no meio de nós! É de lá que tem surgido a tal Nova Classe!
E nós? A populaça que por uma razão ou outra não ascendeu ao pódium de pato bravo endinheirado... de louco endiabrado... que fizemos nós, para além de fazer rolar cabeças? Temos usado a liberdade (possível de conquistar) da melhor forma? Tornámo-nos efectivamente mais solidários e fraternos?...
Não, não tornamos, caro “Lobo”, e as razões estão ditas no meu post anterior: (...)"É que assistimos e deixamos que a palavra Socialismo, no seu mais puro sentido, fosse hipotecada também por uma ganância de poder, – sobre o qual tão bem escreveu Jean-Paul Sartre – derivada dos desvarios totalitários próprios da espécie humana" (...) No seu livro “A Engrenagem”, Jean-Paul Sartre explica bem o que acontece com a espécie humana na sua vertigem pelo poder: é como a pescadinha de rabo na boca. Mas deve ler a questão da guilhotina da Revolução Francesa, mais como uma figura de estilo do texto do que outra coisa. O que eu tento é estabelecer paralelismos e extrapolar nas consequências deles.
Esta é uma questão que me intriga. Já me tenho perguntado como é que alguém acumula poder, como o avarento do Moliére acumulava as suas moedas.
Obviamnete que só o faz porque alguém, e cada vez mais «alguéns», lhe obedece. E, provavelmente, recebe em troca umas migalhas de poder, ou seja, pode fazer outro alguém obedecer, e por aí fora.
O que é que faz obedecer o último da linha?
Será a fome (as diversas fomes, claro), em última análise?
A tal incensada ambição do Homem, que nos ensinaram como sendo um motor de progresso, não existe nele por altruísmo, ela é em primeiro lugar fruto de um egoísmo natural que lhe é dado como arma de sobrevivência na disputa com os outros, ela é no fundo: catalisadora de poder. Até as cidades antigas cresciam por uma questão de poder, e os países de hoje não têm a ambição de serem mais poderosos para depois partilhar esse poder com o vizinho. Assim, não espanta então essa "...cadeia de “alguéns” a obedecer", porque o "...troco esperado são umas migalhas do tal poder" que lhe alimenta o ego, e até o último da linha obedece, porque também aspira um dia "...ao podium de pato bravo endinheirado", como diz lá em cima o Uivomania. Paradoxalmente talvez não seja então a fome Tacci. Arrisco nisto.
O medo?!...
O Poder “Lobo”! Mas configurado naquela tal “ambição de”, originada pelos seus egoísmos, não que não exista nessa “cadeia de obedecimentos” o Medo, mas o medo faz também parte, ou acompanha muitos de outros comportamentos do ser humano: existe na bravura de um soldado, de um herói, etc. Desejos legítimos, aspirações, ambições, poder, é o percurso inscrito na matriz do comportamento dos que se movem naquela cadeia, embora lá esteja o Medo, mas apenas como sentinela. A estratégia última do ser humano está determinada por algo de mais primário do que a Fome e o Medo, está determinada pelo Poder. O que devemos ter em conta na análise, é o que representa Poder para cada um dos “alguéns” daquela cadeia, ele não é igual para todos, assume até diferenças abissais.
E foi nesse egoísmo que Adam Smith pegou quando postulou sobre o liberalismo económico, no fundo, serviu-se de um dos defeitos do Homem porque tecendo-lhe loas elevou-o a outra plataforma e teorizou sobre o que hoje discutimos: este Liberalismo que no caso virou Ganância.
Andava em pesquisa sobre outros assuntos e dei com este texto e sem querer acabei por descobrir que quase parafraseei que Smith: (…)“O pensador escocês Adam Smith procurou responder racionalmente às perguntas da época. Seu livro A Riqueza das Nações (1776) é considerado uma das obras fundadoras da ciência económica. Ele dizia que o egoísmo é útil para a sociedade. Seu raciocínio era este: quando uma pessoa busca o melhor para si, toda a sociedade é beneficiada. Exemplo: quando uma cozinheira prepara uma deliciosa carne assada, você saberia explicar quais os motivos dela? Será porque ama o seu patrão e quer vê-lo feliz ou porque está pensando, em primeiro lugar, nela mesmo ou no pagamento que receberá no final do mês?” (…)
Eu, preferiria - decididamente -, a cozinheira que me ama e me quer ver feliz!
Rectifico: “...quase parafraseei Smith:”
Sejamos optimistas! Haverá por aí ainda alguma despojada capaz de lhe fazer uns bons assados apenas para vê-lo feliz ... sem pensar no troco.
Enviar um comentário