de Sócrates a Duarte Lima.
Cada ser humano é dotado nos seus comportamentos de atributos próprios que o distingue na convivência social com os outros. Nem todos reagem da mesma forma perante a virtude ou os defeitos com que os outros o confrontam, e não é linear que isso tenha a ver com inteligência ou cultura ou outro atributo pessoal, porque pessoas com os mesmos perfis reagem de forma distinta aos mesmos estímulos. É a diversidade de comportamentos própria do reino animal de que fazemos parte. Mas a aproximação ou o afastamento, o amar ou odiar o outro, pode passar muito por uma outra condição verificada que é a pertença a um mesmo grupo em sociedade. Esse factor pode na maior parte dos casos ser determinante na aceitação ou no aparecimento dos ódios de estimação.
Vem isto a propósito de Duarte Lima, tão falado agora por causa da morte da herdeira do património de Tomé Feteira. A história já anda por ai em toda a comunicação social e com ela, Duarte Lima vai passar um mau bocado. É o velho problema da suspeição que até agora não se colocava, mas que se alterou a partir deste fim-de-semana para a polícia brasileira.
Duarte Lima é para mim, um study case na questão que abordo inicialmente. Este político, foi há décadas atrás um dos que mais me fazia mudar de canal ou desligar o som. Foi o tempo em que era deputado do PSD e dirigia o jornal do Partido, o Povo Livre. Era uma figura execrável pelo ódio que destilava nas suas intervenções, o olhar arregalado, o tom inflamado na voz e o ódio a tudo o que cheirasse a vermelho, quase faziam de mim comunista para poder ser mesmo o oposto dele. O tempo passou, o senhor teve uma doença grave e de repente a vida ganhou para ele outro valor, o seu formato de comunicação mudou, o ódio desapareceu-lhe da cara, o discurso tornou-se o oposto do que ouvíamos. Passamos a saber que era “culto” musicalmente porque só ouvia música clássica, etc., etc. E é verdade que quando o ouvia recentemente, mesmo o ano passado em que fez parte da lista de um dos candidatos à liderança do PSD, o seu discurso passava sem me causar os arrepios de antigamente e até o apontava como o exemplo da mudança que a doença pode provocar nos nossos comportamentos.
Duarte Lima está agora metido numa alhada por via da sua condição de ter sido o último a ver a senhora Rosalina com vida. Não sei como reagiria eu na apreciação disto, se porventura tudo estivesse a acontecer nos tempos em que não podia com este homem. Seria como mais um Mário Crespo ou uma Guedes atazanado à perna de alguém e não estaria talvez aqui a fazer este post de reflexão sobre os nossos ódios de estimação.
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