16 novembro 2010

Jornalismo de Sarjeta

Não quero mais nenhuma PIDE agora travestida de novos formatos, se não servindo interesses de causas fascistas, servindo outros inconfessáveis, mas sempre contrários á Liberdade que amamos. Merece prisão imediata a gente que chafurda nesta ignomínia, sejam jornalistas, magistrados ou pombos-correio. Em nome do que conquistamos em Abril de 74, é urgente que alguma força tenha o poder de travar o desvirtuamento daquilo que mais prezamos: podermos falar sem gravadores na linha, para servir jornalismo de sarjeta. Nem que tenha que ser outra vez um chaimite rasgando a Lei vigente, entrando-lhes porta dentro. Que nenhum canalha se aproveite das liberdades que lhe garantimos para nos falar de LIBERDADE. Apetece-me ter uma arma, e á maneira dos tuaregues disparar no ar como forma de mostrar a minha indignação. Aqui vai a razão:
.
“(…) O "Correio da Manhã" dava ontem conta de uma escuta a Edite Estrela em que a deputada europeia dizia o que pensava de muitos dos seus parceiros de partido. Edite Estrela não está acusada de nenhum crime, mas foi escutada numa conversa com Armando Vara, no âmbito da Face Oculta. A utilização de uma escuta num jornal é um procedimento que deve estar rodeado de uma série de cuidados e fundado em princípios de rigorosa excepção, que nunca poderão abranger a vida ou as afirmações de um simples cidadão, desempenhe ele o cargo que desempenhar, casualmente apanhado numa escuta de um arguido. Este jornalismo de sarjeta que o CM vem praticando mancha a profissão. Não me querendo arvorar, nem ao jornal que dirijo, em exemplo, há que dizer que comportamentos destes constituem um crime e vão denegrindo a imagem da profissão, porque se tende a generalizar a crítica. Não há, não pode haver, contemplações com casos destes. Há com certeza um grande interesse de uma significativa parte do público por este desnudar constante da vida privada de quem desempenha cargos públicos. E isso poderá ser bom para a venda de jornais. Mas importa sublinhar que o interesse público é outra coisa.”
.
É um Post Scriptum da Opinião de José Leite Pereira, de Jornal de Notícias do dia 14. Valha-nos este jornalismo residual para quem a Ética é uma palavra com sentido. A referência foi encontrada em primeira mão neste excelente post de Ricardo Sardo, no Legalices, de leitura obrigatória. Mexam-se, actuem, isto não é uma questão de Direita ou de Esquerda é uma questão de Liberdade, transversal á política, seja a Edite, o Portas ou o Jerónimo. Os interesses por detrás deste jornalismo não podem sobrepor-se á nossa vontade.
.
.

3 comentários:

Ricardo Sardo disse...

O problema é que, à boleia do ódio a Sócrates e ao actual PS, se tenha aberto a caixa de Pandora onde se escondem os mais escabrosos abusos dos media. Há muito que chamo a atenção para o facto de, ao se estar a abrir um gravíssimo precedente, se venha, mais tarde e com outros naqueles lugares (governo, parlamentos, etc), a fazer exactamente o mesmo que agora se faz. Claro que aí já será tarde, por isso tenho lutado nesta questão, mesmo sendo acusado de querer defender ou proteger os visados destes ataques. Nada mais falso, obviamente, pois o que defendo são princípios e não pessoas. Ao contrário de outros, que se esquecem e moldam os seus princípios e valores por causa das pessoas.
Abraço e parabéns pela coragem em entrar também nesta luta pela Democracia.

Ricardo Sardo disse...

Descobri, há pouco, este texto de Pedro Marques Lopes. Recomendo.

http://uniaodefacto.blogs.sapo.pt/375554.html

Graza disse...

Ricardo, a defesa que tenho tomado de alguns principios, pela forma como tem andado na imprensa têm feito de mim um pró-Socrático, o que é como no seu caso, errado. Tenho é pela defesa da Democracia um enorme respeito, e estas questões das escutas interferem com os medos que ainda tenho pelo que vivi antes do Abril de 74. Não abdicar nesta defesa é o minimo que posso fazer, mas há quem possa fazer muito mais e o barulho do silêncio que faz incomoda-me demasiado.

Reconheço inteiramente que o que diz é verdade porque o vou lendo há muito.