O apelo que Manuel Alegre sentiu para manter a sua candidatura nas presidenciais de 2006, apesar do candidato lançado posteriormente ter sido Mário Soares, foi porventura um dos actos de Cidadania mais importantes na vida política portuguesa recente, porque partiu da justa reclamação dos direitos de um cidadão exemplar, com os quais veio a colidir depois a determinação oficial do seu partido. Isto é tanto mais importante quanto sabemos que a Democracia só vinga e se mantém como sistema saudável, se os cidadãos exercerem com grande virtude os seus direitos. Manuel Alegre fê-lo com uma convicção muito forte, tão forte que foi o cimento agregador de quem não se queria confinar no espartilho partidário que circunstancialmente não soube ler o sentimento dos cidadãos, que por uma razão igualmente forte quiz sentir a politica nas suas mãos, através daquele acto. A lisura deste processo pode ser comprovada no blog Alargar a Cidadania que dinamizou a campanha e foi um êxito neste novo formato de apoio, do qual a Candidatura extraiu um livro para memória futura.
Esta questão deixou marcas, porque parecia ser a primeira vez que a cidadania era exercida no país, tal era a convicção com que cada um participou. Aquele êxito não passou depois despercebido e até Cavaco não resistiu, e alguns tempos depois a cidadania era uma palavra que lhe saltava em cada discurso. Mas cada um é para o que é, e entretanto calou-se.
Não é de estranhar agora o comentário do Dr. Fernando Nobre sobre Alegre, a Cidadania e os apoios partidários, e porque Fernando Nobre não desconhece o histórico das duas candidaturas de Alegre está a ser injusto, parecendo querer apropriar-se do termo, por muito que se lhe reconheça a sua actuação na outra área da cidadania global solidária. Manuel Alegre não inventou a cidadania, claro, não reclama isso, mas foi entre nós, em termos políticos, quem melhor recuperou para o cidadão a consciência imperiosa do seu exercício. Este mérito, já ninguém o pode tirar, eu testemunho isso.
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