A voz de Lídia Jorge no debate Prós e Contras chegou-me da sala e terei ouvido qualquer coisa como: “Ou nós pensamos que só uma revolução pode melhorar isto ou nós pensamos que a democracia pode ter as suas virtualidades…”. José Gil já havia dito antes que era necessária a emergência de um novo elemento: “Um choque”. Isto tranquiliza-me, porque ando por aqui há muito com esta conversa e já me fazia a duvidar de mim. É provável que outros mais o digam ainda que escondendo o termo na argumentação, mas o que é importante é que a proposta exista como alternativa, se é que uma revolução ou um choque pode ser assim uma coisa para se anunciar.
Não há que ter medo, até as revoluções não têm que ser cópias de passados mais ou menos sangrentos ou floridos, a Islândia e o tipo de revolução que está a fazer neste momento, depois de cair no abismo, pode ser a prova disso. Há que acreditar que é possível mudar sem ter que dar tiros, porque até mesmo a Direita estará atónita com o resultado de deixar os mercados e a sua especulação em roda livre. Os filmes Inside Job, Zeitgeist e outros vídeos, e o livro Indignez-vous, de Stéphane Hessel, avisam-nos de coisas perturbadoras demais para que não tentemos a mudança de paradigma, que nunca será partir do zero, mas do momento em que tudo começou a ser mal feito.
Portugal, Grécia, Irlanda e outros que virão, têm já os seus próximos futuros hipotecados por muito tempo, para voltar depois a ser possível aos que lucraram com a derrocada do sistema, fazê-lo novamente, num ciclo de especulação e exploração com as mesmas regras. Uma mudança é urgente, mas o Euro que nos serve de escudo e amarra a compromissos não pode servir também para inviabilizar o futuro que com ele não se concretizou. É preciso lançar o debate, simular modelos, porque também como no limite dos materiais, é mais seguro reconstruir que reparar e com a brigada cinzenta que temos à frente dos nossos destinos, antes morrer agindo que não tentando.
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