15 dezembro 2011

Gente (des)Norteada


A década de 70/80 foi um período caracterizado pela influência de um certo tipo de caciquismo de base empresarial retrógrada, disseminado por uma onda vitoriosa de Direita de alguma forma instilada pelo medo do comunismo e influência do PCP, e vivíamos num ambiente de uma espécie de vergonha da nossa produção do Sul, face à do Norte. O argumento que nos era arremessado pelas cliques reaccionárias dominantes, como forma de aplacar veleidades reivindicadoras, era de que no Norte é que se trabalhava, no Norte é que estava a riqueza e a produção, no Norte não se reivindicava por nada. O Norte era “boa gente”, o Sul era uma “chusma” de calões. Enfim, o Norte era moda. O Norte até tinha a maior densidade de Ferraris do mundo por metro quadrado. No Sul, o representante de uma empresa do Norte achava estranho o valor da minha remuneração face aos valores que poderia ganhar no Norte, com menos problemas fiscais e menos trabalho nessas justificações. Mas nestas análises ficava de fora daquele quadro de desenvolvimento regional, as condições laborais globais daquelas costureirinhas e a sua consciência delas. O que aquele reaccionarismo pretendia era só já jogar povo contra povo, o do Sul contra o do Norte, pelo apoucamento de um, contra a exaltação do outro. Foram os períodos de florescimento dos Jardins e dos Pintos.

Entretanto, veio a crise dos têxteis e do calçado… e a miséria no Vale do Ave e etc.
 
Agora, o reaccionarismo volta, mas do Norte, e vai sendo moda condenar o Sul pelo centralismo e pelo roubo de verbas. Mais uma vez, o provincianismo medíocre joga regiões contra regiões, apenas e só para aplacar raivas que vai incompreensivelmente destilando.

Uma das questões nacionais a que mais sou sensível é a que põe portugueses contra portugueses e mina a velha unidade e a solidariedade do povo português. Não pretendo fazer deste blogue nenhuma caixa de ressonância dando tempo de antena a portugueses que vivem avinagrados no ódio e nos egoísmos regionais, mas é um mau serviço que prestamos ao país se deixarmos passar, os discursos dos Jardins, dos Pintos e dos Fieis servidores de mentes com graves complexos por resolver. Hoje encontrei aquele.

4 comentários:

folha seca disse...

Uma velha receita "dividir para reinar"
Cumprimentos
Rodrigo

Graza disse...

Rodrigo:
O ditado pode não aplicar-se na totalidade ao caso a que reporto e que me levou a escrever, mas há que dizer que os padrinhos desta estratégia não se eternizariam na política ou futebol, se não recorressem a essa velha estratégia e não encontrassem eco nos espíritos predispostos. Esta é uma estratégia que vai sempre beber no espírito violento que existe em cada um de nós. Na política é o caciquismo, e no futebol são as claques que lhes servem de respaldo. Qual de nós não conhece o desabafo: “Hoje apetece-me andar à porrada”? O que existe dentro de gente assim? Uma violência latente pronta a largar bombas de neutrões no que não gosta.

Rogério G.V. Pereira disse...

Se alterar a expressão "avinagrados no ódio", até assino por baixo.
Os meus motivos são razoáveis...

:))

Graza disse...

Rogério Pereira:

Está escrito, está escrito. Mas tome “avinagrados” por “conservados”, e não por “temperados”, como se podem temperar as “conversas”. :))

Saudações.