03 fevereiro 2012

O Vasco, a capelinha e o Acordo

(Reeditado)
Se o Ministro da Cultura, Viegas, já afirmou que o Acordo Ortográfico se mantém, é para implementar e essa obrigatoriedade é para o Estado, a partir de 2012, como se compreende que Vasco Graça Moura tenha na sua primeira grande decisão conhecida à frente do CCB, mandado suspender o seu uso naquela casa, inactivando até os suportes informáticos de ajuda existentes? Argumenta que a obrigatoriedade da sua implementação é para eles a partir de 2014, por se tratar de uma entidade de direito privado, mas como aceitar, que estando o Estado vinculado se coloque de fora dessa obrigação uma casa como esta, onde é fundador de referência, apenas porque o seu novo inquilino foi um dos mais acérrimos opositores do Acordo? Que imagem daremos da nossa cultura quando temos cada um a decidir no seu feudo de acordo com convicções pessoais? Ouvindo entretanto a veemência com que VGM justificou a sua decisão, diria até que ele tem em relação à medida que tomou, a certeza da cobertura por tutelas superiores. Não me surpreenderia. Que eu aproveite todos os limites da implementação do AO para me sentir mais confortável com a aplicação das novas regras, entende-se, o que não se percebe é termos entidades deste relevo a darem estas tristes imagens da forma como nos organizamos, num domínio tão importante como a Língua em que nos entendemos.

Terá sido exactamente daquele local que outro velho do Restelo bramou sem consequências contra a aventura, mas o seu espírito deve ter ficado por ali a pairar para que vindouros mediúnicos o encarnem no momento de decisões importantes, voltando sempre a mesma ladainha. Por muito Direito que lhe assista não ser pró-Acordo, não tem contudo o de ser "anti", no exercício das suas funções oficiais, só porque ganhou a sua capelinha. Foi assim Graça Moura no CCB: à primeira cavadela, minhoca! Promete.

Reedição:
Uma mensagem amiga alertou-me para o facto do Viegas não ser Ministro. Sim, agora reparo que nunca me pareceu Ministro, embora o tivesse promovido mais levado pela importância que atribuo à pasta do que ao empastado. Afinal ele é só Secretário de Estado. Bem feito para ele que não lhe bastou tanto polimento aos corredores do poder a que paulatinamente se foi chegando. Aqui fica a ressalva.

2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Candonguei isto do "Jugular", teve de ser... e eles vão-me perdoar:

Há quem entenda que, desagradando o acordo ortográfico a Vasco Graça Moura, está ele no seu pleno direito de proibir que seja adotado no CCB.
A primeira coisa a notar é que nenhum cidadão é interdito, na sua vida pessoal, de utilizar a ortografia que entender. Ninguém vai preso pur iscreber cômo lhap tesse.
Já o caso é diferente no contexto de instituições às quais cabe ensinar a norma do português escrito, tais como as escolas e as editoras escolares. Ou outras organizações de que são exemplo museus ou centros culturais. Acredito que não será preciso fazer um desenho para se perceber porquê.
A atitude de Graça Moura revela, desde logo, falta de profissionalismo e ausência de perfil para dirigir uma instituição com as responsabilidades do CCB.
Ele foi nomeado para cumprir uma tarefa, não para promover as suas idiossincrasias pessoais. Tem o direito de conservar tanto as ideias próprias como a ausência delas, mas não de se valer do cargo que ocupa para impô-las contra tudo e contra todos.
Gente prepotente e mal-educada beneficia entre nós de uma surpreendente tolerância. O anterior governo também colocou uma mão cheia desses exemplares em lugares de responsabilidade, com a consequente desmoralização dos subordinados e paralisia das instituições.
Graça Moura pertence a essa categoria de figurões que tem que perfumar-se muito para disfarçar o fedor da grosseria.

Graza disse...

Obrigado Rogério por ter trazido aquele excelente recado ao VGM. Estendo também a si o "bravo" que lá deixei.
Saudações.