24 setembro 2012

A Puta da Formiga



São nove da manhã. Abri o computador com o intuito de descarregar a raiva que me vai na alma com a merda da conversa da puta da formiga macedo sobre a fábula da cigarra e a formiga, por não me sair da cabeça desde que a ouvi. Liguei o rádio, enquanto no computador se instalavam as ferramentas de trabalho para que a merda da cigarra que sou - segundo a formiga macedo - cante sobre a merda da conversa dos calões e dos mouros de trabalho a que a formiga fabulista de pacotilha se referia, e o primeiro som que o rádio me  devolve é a excelente crónica “O Fabulador”, em Sinais, de Fernando Alves, na TSF, sobre aquela fábula de Esopo. Entro na net e a coincidência continua: a leitura dos correios iniciais, aqui, traz-me também para o barulho de mais cigarras, gente que não cala a indignação de não poder trabalhar, de não poder ter o direito à esperança de se matar como se mata a puta da formiga macedo com tanto trabalho. A raiva tinha-me alinhado um pensamento para por o dedo em cima da puta da formiga, mas abstenho-me agora por outros o terem feito já por mim com mais qualidade. Sobra-me a esperança que o barulho que fazem neste final de verão seja o prenúncio da Revolta das Cigarras, que já vai sendo tempo de reporem a honra: querem vergá-las ao trabalho escravo de um carreiro, mas é da espécie e está no seu genes que a cultura através do seu canto seja aquilo que as distingue dos vermes.

Esqueci-me de dizer que a puta da formiga macedo se engana muito a meu respeito: trabalhei durante quarenta e quatro anos, fui desempregado num processo colectivo, reformado compulsivo e que me honra muito pertencer ao grupo das cigarras e não das formigas de merda a que ele pertence.

2 comentários:

Alexandre de Castro disse...

Brilhante, amigo Grazina...

Graza disse...

Obrigado Alexandre. Isso responde-me um pouco à dúvida de estar ou não doido por escrever assim.
Um abraço.