01 janeiro 2013

O abraço à Casa da Música



Não gosto de ter que condicionar a minha opinião, por que sectores políticos que me são próximos têm sobre uma mesma questão uma opinião diferente da minha. Esta do abraço à Casa da Música é uma delas.

O que posso dizer que não enxofre ninguém: os do sul porque é mais um corte na cultura, e os do norte porque para além disso é na “sua” Casa? Tenho perante o problema da Casa da Música uma dúvida, por duas razões – sem nunca negar o pleno direito que o Porto tem de ter uma instituição como aquelas, dedicada à música. Antes de mais, aquilo era para ter custado 33 milhões e acabou custando 111 milhões (!), - num país que está culturalmente na cauda da Europa - depois, não acho que esta seja a forma mais eficaz de fazer com que o nosso povo cresça tão rapidamente quando possível para os patamares da cultura onde gostaríamos que estivesse, ou seja, o problema não é quanto se gasta em Cultura, mas "como" se gasta em Cultura. Tenho imensas dúvidas, que a melhor forma de termos ovos no final da viagem, seja transportá-los todos na mesma cesta em vez de os dividirmos por várias.

Quantas Semanas Internacionais de Coros ou outros instrumentos de veículo de cultura musical movimentando massivamente mais gente se fariam por todo o norte e centro, com os valores que estão em questão – como aquela semana que fez com que eu tivesse ficado retido uma vez em Évora para ter o privilégio de assistir ao encanto com que uma tia avó ouviu música total ecoar nas abobadas daquela Catedral? Não sei o que mais me sensibilizou, se a música, se ter visto acontecer a chegada daquela cultura a quem me parecia que nunca tinha chegado.

Somos culturalmente o que somos, e só temos melhor noção disso quando nos confrontamos com os restantes povos da Europa. A nossa prioridade na Cultura deveria ser, o fazer chegá-la melhor ao povo que nos afunda nas comparações e menos, embora também, alimentar aqueles que mais tiveram o privilégio de ter acesso a ela. Não sei se o que está em causa na Casa da Música não é mais esta questão de melhorar o alimento a quem já o tem, porque se vamos medir a cultura pelo número de entradas numa bilheteira, estamos a inquinar ou a torcer o debate para o nosso lado.

1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Tem razão... e então?

Numa politica de cultura
onde esta teria um por cento do orçamento
a Casa da Musica podia (e seria) utilizada de outro modo...