27 fevereiro 2013

"O meu amigo matou-se"



A Dra. Isabel do Carmo não levará a mal que faça uma cópia integral do triste desabafo que nos deixou hoje no Facebook. Os sublinhados são meus: 

“O meu amigo matou-se.

É um dos motivos porque vou à manifestação do dia 2 de Março.

Vou também em nome do meu amigo. No dia 18 de Fevereiro o meu amigo J. C. deu um tiro na cabeça. Já não vai a esta manifestação.

Era um indigente ou um faminto? Não. Era um exemplo da chamada classe média. Gostava da vida. De comer, de dançar, de ir à praia. Ele e a mulher comportavam-se como dois namorados, depois de todos estes anos. Gostava dos filhos, a quem era muito chegado, gostava da neta. Gostava do trabalho. Mas, a situação a que nos levaram criou um labirinto sem saída. De facto, sem saída para uma grande parte da população. Deixemo-nos de flores, de «há soluções para tudo», de «é preciso ter esperança» ou de «há-de correr bem».

Há certas situações que não têm solução à vista. Tinha os pais em casa com oitenta e tal anos e tinham chegado ao ponto de não conseguirem tratar de si próprios. Solução? Um «lar» custa 1300 euros para cada um. Uma empregada permanente anda por aí.

Tinha empregados a quem tinha que pagar salários todos os meses. Tinha empréstimos ao banco, crédito a cumprir, letras. Tinha clientes que não pagavam, porque por sua vez não lhes pagavam a eles.

Os filhos trabalhavam, mas havia um apoio indispensável, por causa da precariedade e por causa de situações de doença.

O senhorio acabava de, em concordância com a nova lei das rendas, passar-lhe a renda para o dobro.

Tinha solução para esta espiral que todos os dias se agravava? Não tinha.

Declarava insolvência, renunciava a todos os pequenos bens, ia para a rua, abandonava pais e filhos ao destino? Claro, tudo é possível.

Mas a dignidade tem um preço.

Os amigos podiam ajudar? Muito pouco.
Foi com certeza em nome da dignidade que teve a coragem de acabar com a vida.

Nesse mesmo dia veio ter ao Serviço de Urgência do Hospital de Santa Maria uma senhora que se atirou para debaixo do comboio do Metro. Salvaram-na, mas ficou sem um braço. Dias antes atirara-se a professora e o filho de uma janela em Bragança. Na ponte da Arrábida são frequentes os ajuntamentos porque alguém se atirou.

Estamos a assistir a uma epidemia?

Como os nossos governantes e as estruturas internacionais e o poder financeiro mundial já não distinguem entre o Bem e o Mal, temos nós que desobedecer às leis do Mal, protestar, mas não só. Encontrar o caminho para derrubar este Poder. No dia 2 de Março o meu caminho começará na Maternidade Alfredo da Costa na Maré Branca e continuará com todos os outros, através de Lisboa.

Também em nome do meu amigo que NÃO AGUENTOU.”


1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Antes que o país se suicide...