27 julho 2005

As nossas indecisões.

Alguns de nós têm sobre os projectos OTA/TGV opinião, outros nem tanto e outros ainda, procuram fundamentos para poder tê-la.
São projectos que pela sua dimensão e carácter, não devem, embora possam, ser de ânimo leve, bem queridos ou mal amados. É fácil optar por um lado ou outro, como se estivessemos a optar pelas cores num jogo de futebol. Mas como não é disso que se trata, talvez fosse melhor procurarmos não discutir a questão em termos clubisticos, porque podemos estar a fazer claque pela equipa errada e a exibirmos algumas arrogâncias fácilmente desmontáveis por um mais bem fundamentado argumento do lado contrário.

Técnicamente, muitíssimo poucos terão alguma opinião bem estudada, dado que OTA’s e TGV’s não temos para aí aos pontapés, e a importação de modelos pouco podem valer neste caso. Portugal, Ota, as nossas especifidades e periferias não são assim tão transportáveis, logo, grande parte da opinião que vamos lendo e ouvindo tem por base outros tipo de fundamentos. E são estes que fácilmente nos levam a jogar por um ou por outro lado. Estes fundamentos, têm para além da componente Económica e Politica, uma outra que pode passar ao lado do que podemos chamar “bom senso”: o arrojo. Um grande projecto envolve sempre uma grande componente de arrojo. Sines, há 40 anos, era técnica e económicante viável, de pouco lhe valeu o arrojo com que foi lançado porque falharam a meio as permissas com que foi concebido. A Expo, seria económicamente um falhanço e não faltaram bruxos e profecias. Hoje, gabamo-nos do arrojo que foi necessário, e a Parque Expo, exporta o “know how” com que aprendeu ao fazê-la.

Vem isto a propósito de duas leituras distintas de dois dos jornalistas que mais admiro. Não só pela qualidade dos seus escritos mas também pelo trabalho interventivo de qualquer um deles:

António Mega Ferreira, com a Expo demonstrou a eficácia do arrojo com que projectou. Só quem não conhecia aquela zona e as dificuldades da desafectação poderia achar tarefa fácil. Mas ele teve a ousadia de arrojar a proposta. Lisboa e o País ganharam mais do que uma nova porta de entrada: ganharam credibilidade.

Francisco Sousa Tavares, poderia ser, se quisesse o patrono das causas sem defensor. Nunca mais me esqueço que hoje teríamos na zona ribeirinha até Belém uma barreira erguida de “outra” cidade, se o tal plano: “Pozor” – Plano de “Ordenamento” da Zona Ribeirinha, fosse levado à prática. Ganhámos todos, os que se empenharam escrevendo-lhe cartas de apoio à luta que travou através da Revista Grande Reportagem. E foi preciso estar bem atento porque tudo se estava a passar à boa maneira dos famosos “lobbys” do sector.

As duas leituras que recomendo, são: No Jornal Público de 22 de Julho, pág. 7, Francisco Sousa Tavares desmonta de uma forma brilhante a má opção por estas obras e diz que:

Quando ouço o actual Ministro das Obras Públicas - um dos vencedores deste sujo episódio – abrir a boca e anunciar em tom displicente os milhões que se prepara para gastar, como se o dinheiro fosse dele, dá-me vontade de me transformar em “off shore”, desaparecer do cadastro fiscal que eles querem agora tornar devasso, de mudar de país, de regras e de gente.”

E na Revista Visão nº 646 de 21 a 27 de Julho, Mega Ferreira diz a propósito das “calenda gregas” ou seja “o dia de São Nunca à tarde” que:

“Maus decisores, pouco ousados e falsamente ponderados, não nos limitamos a adiar apenas obras e investimentos de grande dimensão e, portando, de ambição estratégica. A todos os níveis da vida social, a mesma inacção “criativa” permite que decorra tanto tempo entre a formulação da hipótese e a decisão que, por vezes, a questão deixou de ser premente. É o “deixar estar como está para ver como é que fica”...”

Escolhi duas opiniões que são claramente emitidas de forma autónoma, não me parecendo que algum esteja a fazer frete político. Qualquer um de nós poderá vir assim a errar ao formar a sua opinião sobre esta matéria. Mesmo com todos os dados do problema pode acontercer-nos o mesmo falhanço de Sines: os dados baralharem-se a meio do percurso. Ou então, demorarmos tanto e acontecer-nos outro Alqueva.
Vou guardar estas duas crónicas. Hoje, têm os dois razão. Um dia algum “estava” errado!

1 comentário:

Anónimo disse...

Belo post este. Também dou muita atenção aos escritos desses dois jornalistas.