Lá como cá preferia um presidente com as capacidades humanas de indignação perante a injustiça. Segoléne mostrou-o aos 54 minutos do debate, numa situação perfeitamente justificada quando atacou Sarkozy sobre uma medida de Educação. O ser humano foi dotado com qualidades e defeitos que temos o direito de conhecer na sua plenitude, quando se trata de uma escolha tão importante. Contra a importância da fachada e do hermetismo opõe-se a da postura humana aberta e da transparência. Contra um candidato com um olhar no presente opõe-se uma presidente com espírito de futuro, e a França e a Europa precisam disso.
4 comentários:
Infelizmente caro Graza não é a capacidade de indignação perante a injustiça que conquista votos... e sem votos não há presidência!
Imoral ou não Sarko sai do debate confortavelmente, ao passo que Ségolène vê a sua posição fragilizada, não obstante a sua coragem, ousadia e determinação.
Ségolène foi emotiva. Ségolène foi demasiado emotiva. E, embora ela não o reconheça, acabou por perder as estribeiras ao enervar-se. Num debate, o tremer da voz e a indecisão no discurso são falhas que se podem revelar fatais. E a voz de Ségolène tremeu e as suas ideias foram pouco precisas e pouco seguras.
Por seu lado Sarko foi mais seguro de si mesmo. Nunca perdeu a calma, dando sempre uma boa imagem de serenidade e razoabilidade. Levava também a sua cábula bem estudada, com um discurso mais objectivo e preciso.
E os franceses não querem um Presidente de futuro. Querem um Presidente seguro de si mesmo e que lhes resolva os problemas do imediato.
Infelizmente parece-me que os franceses querem Sarko.
Isso é deitar a toalha ao tapete antes do tempo! Conheces melhor a realidade francesa e é verdade que a França não nos dá luzes há muito e Sarkozy se encaixe neste quadro. A questão da Turquia talvez seja muito determinante face aos últimos acontecimentos os quais Sarkozy aproveitou bem. Eu não sou exemplo porque já estava convencido, mas vamos ver como funcionou com os indecisos...
Graza,
Eu não deitei a toalha ao tapete. Pelo contrário, continuo a defender a Madame Ségolène e a fazer campanha por ela. A tal ponto que ontem teci vários elogios sobre sua actuação no debate a amigos indecisos e sarkosistas. (dar o braço a torcer não é hipótese neste caso)
Mas manda a obrigação que eu seja sincero contigo, até porque não temos direito de voto e só muito dificilmente um francês passará por aqui e compreenderá ao certo do que falamos. (se bem que nunca se sabe!)
E honestamente, parece-me que a dar-se, a mudança de opinião dos indecisos pende a favor de Sarko. A sua demagogia e eloquência aliadas à segurança do seu discurso fizeram dele o vencedor da noite. Não um claro vencedor, mas o suficiente para manter a liderança.
E embora determinante a questão da Turquia é apenas uma agulha no palheiro. O que verdadeiramente preocupa os franceses neste momento é a situação interna: o desemprego, a insegurança, o sistema de segurança social, etc. E nisso, apesar de demagogo e sem dúvida um tanto ou quanto "imoral", também ele foi forte. Levava a lição estudada e a força das palavras consigo.
Mas retomando as questões europeias, parece-me que o seu não obtuso à entrada da Turquia na UE foi também um ponto a seu favor. Muitos são aqueles que vêm com maus olhos a adesão da Turquia. Mais, Sarko não deixa de ter razão ao afirmar que a UE urge por uma reestruturação das suas instituições.
A UE não pode continuar a crescer sem consolidar o seu modo de gestão e funcionamento. É mais fácil chegar a um consenso entre poucos e depois sujeitar outros interessados às regras do jogo, do que alcançar consenso entre muitos. Neste âmbito partilho a sua opinião: a construção de uma “UE política” requer uma reformulação da ideia da UE e do seu modo de actuação.
Ainda no campo europeu, parece-me também que Ségolène perdeu com a sua insistência num novo referendo à Constituição Europeia. Como disse Sarko: “os franceses já deram a sua palavra e disseram não”. E a meu ver, mais água tem que passar no rio até um novo referendo.
Coisas…
Aprecio a franquesa e a honestidade da tua confissão, mas um certo desencantamento ou a noção da realidade que relatas pode também ser motivado pelo ambiente que te rodeia, ou onde te movimentas, mas esse, só tu podes avaliar e podes por aí estar a ser vítima. Numa pequena pesquisa que fiz aos jornais internacionais as leituras não são assim tão derrotitas, embora elas também seja ditadas pelas tendências das linhas editorais.
On verra...
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