O Vice-Presidente da Catalunha Carod Rovira afirmou em Barcelona que a Espanha ainda não assumiu que Portugal é um Estado independente e diz que Madrid pretende manter uma tutela paternalista e uma atitude de imperialismo doméstico sobre Portugal, mas também acusa alguns dirigentes portugueses de historicamente sempre terem tido um complexo em relação a Espanha. É notícia da Lusa, está em todos os jornais mas veja aqui, no Público de hoje.
Não é segredo que existe neste blogue uma certa vertigem anti-Ibérica. Ela é sobretudo justificada pelo que considero ser a fabricação de um conceito que não existe. Não me sinto ibérico. O Iberismo não existe, apesar de haver gente afanosamente a demonstrá-lo. Há relações que só os povos podem construir. Sabemos, quando lá vamos, como os espanhóis nos ignoram e isso tem razões históricas. E por muito que alguns aqui não gostem que se diga, é com os Galegos, pela força da origem linguística que essa forte relação existe.
Admito que esteja certo no que diz, Carod Rovira. Que tenha utilizado isso em proveito próprio numa espécie de dividir para reinar é outra questão, mas não estará longe da razão, e também o tenho dito aqui de outra forma. É por isso que acho que os Iberismos são apenas uma via de sentido único, porque é o centralismo espanhol que absorve totalmente este conceito que só serve para inchar Castela secando o resto. O problema é que continuam a haver portugueses a facilitar tudo isto, mas é agora um espanhol que nos desvenda um pouco das suas conversas em família e que muitos cá não aplaudem. Os espanhóis nunca emendarão o seu relacionamento com Portugal porque isso lhes está na massa do sangue há nove séculos e sempre que emendaram foi em proveito próprio. Como diz Rovira lembrando a história, valeram-nos também em 1640 as revoltas na Catalunha e na Biscaia, para que Filipe III se tivesse voltado para aquele lado, caso contrário, seríamos nós hoje uma Catalunha espanhola, o mal destes foi a nossa sorte. Mas não é por estas declarações servirem apenas os interesses independentistas de Rovira que devemos tapar os ouvidos e assobiar para o lado.
Não tanto a propósito, mas veja-se aqui o que estão a fazer ao Galego e a justa reacção que começa a haver perante as últimas alterações introduzidas no ensino do Castelhano e o desespero de 90% de adultos com mais de 65 anos quem vêem a sua Língua materna ser falada apenas por 10% dos seus jovens.
Não é segredo que existe neste blogue uma certa vertigem anti-Ibérica. Ela é sobretudo justificada pelo que considero ser a fabricação de um conceito que não existe. Não me sinto ibérico. O Iberismo não existe, apesar de haver gente afanosamente a demonstrá-lo. Há relações que só os povos podem construir. Sabemos, quando lá vamos, como os espanhóis nos ignoram e isso tem razões históricas. E por muito que alguns aqui não gostem que se diga, é com os Galegos, pela força da origem linguística que essa forte relação existe.
Admito que esteja certo no que diz, Carod Rovira. Que tenha utilizado isso em proveito próprio numa espécie de dividir para reinar é outra questão, mas não estará longe da razão, e também o tenho dito aqui de outra forma. É por isso que acho que os Iberismos são apenas uma via de sentido único, porque é o centralismo espanhol que absorve totalmente este conceito que só serve para inchar Castela secando o resto. O problema é que continuam a haver portugueses a facilitar tudo isto, mas é agora um espanhol que nos desvenda um pouco das suas conversas em família e que muitos cá não aplaudem. Os espanhóis nunca emendarão o seu relacionamento com Portugal porque isso lhes está na massa do sangue há nove séculos e sempre que emendaram foi em proveito próprio. Como diz Rovira lembrando a história, valeram-nos também em 1640 as revoltas na Catalunha e na Biscaia, para que Filipe III se tivesse voltado para aquele lado, caso contrário, seríamos nós hoje uma Catalunha espanhola, o mal destes foi a nossa sorte. Mas não é por estas declarações servirem apenas os interesses independentistas de Rovira que devemos tapar os ouvidos e assobiar para o lado.
Não tanto a propósito, mas veja-se aqui o que estão a fazer ao Galego e a justa reacção que começa a haver perante as últimas alterações introduzidas no ensino do Castelhano e o desespero de 90% de adultos com mais de 65 anos quem vêem a sua Língua materna ser falada apenas por 10% dos seus jovens.
2 comentários:
O PERIGO ESPANHOL: MITO OU REALIDADE? (o exemplo de um caso concreto...)
de Carlos Eduardo da Cruz Luna Rua General Humberto Delgado, 22 r/c 7100-123-Estremoz (PORTUGAL) tlf 00351-268322697 00351-939425126
O PERIGO ESPANHOL: MITO OU REALIDADE? (o exemplo de um caso concreto...)
Carlos Eduardo da Cruz Luna
Prof. História do Ens. Sec.
Não pretende este "trabalho" analisar profundamente o problema do "Perigo Espanhol", mas tão só reflectir sobre um caso CONCRETO, poucas vezes ( o que é mau) relacionado com a problemática de se tentar adivinhar qual poderia ser o futuro de Portugal se, por qualquer motivo, ficasse sob o domínio de Madrid. E penso haver motivos para reflectir...
Antes, não resisto a recordar as palavras de Jordi Pojol, então dirigente da Catalunha (ainda não estava no Poder o mais nacionalista Pascual Maragall), ao "Expresso" de 12 de Outubro de 2002 : "...imagine que em 1640 a sublevação portuguesa tinha sido derrotada, e que desde então até hoje Portugal estivesse (...) incorporado em Espanha; Portugal teria sofrido a pressão das Instituições políticas, do Poder Administrativo Espanhol, a perseguiçáo da sua cultura e a proibição do ensino do Português nas escolas, na administração, na comumicação social e, inclusivamente, durante muitas e muitas décadas, a proibição de que se editassem livros em Português ou até mesmo que se desse catequese em português. Imaginem (...)que hoje a Praça dos Restauradores se chamasse Praça Felipe III e a Alameda D. Afonso Henriques se chamasse Alameda Felipe I."
Seria interessante discutir se Jordi Pujol estaria ou não a exagerar. Não nos é possível saber o que sucederia exactamente o que sucederia se Portugal tivesse sido derrotado no conflito de 1640-1668. Mas, ao fim e ao cabo, há um caso concreto, e~é esse que vou tentar analisar, de um território de cultura portuguesa submetido a Madrid. É raro estudar-se sob este ponto de vista, mas penso ser importante fazê-lo. Trata-se da Região de Olivença ( e Táliga...).
Uma vez mais, é impossível saber se, unido a Espanha, Portugal seria transformado numa Gigantesca Olivença. Talvez a dimensão da território e o peso da população não tivessem permitido tal. Todavia, mesmo sem se chegar à situação do "Território das Oliveiras", causa muita apreensão pensar somente que se poderia chegar a uma situação intermédia, de tal forma negativa ela se apresenta em certos aspectos hoje em Olivença. É que...intermédia seria ainda bastante má...
Já se sabe. Olivença foi conquistada pela Espanha em 1801. Segundo a interpretação diplomática portuguesa, o Tratado que se seguiu foi anulado em 1807, e tal anulação foi reconhecida pela Europa em Paris (1814), em Viena de Áustria(1815), e em documento assinado por Madrid em 1817.
O problema começa aqui. Mais de 80% dos oliventinos desconhece tais factos, e acreditam que Olivença foi trocada por Campo Maior, ou que veio para Espanha no dfote de uma Rainha, ou em qualquer outra historieta sem fundamento histórico.
Mas há mais. Em nenhuma escola de Olivença (e Táliga, aldeia independentizada no Século XIX) se ensina a verdadeira História da Região, mas tão só a História de Espanha. E isto desde há duzentos anos. O Oliventino cresce a aprender ( e a lutar por ) uma História que NÃO É A SUA.
É verdade que se ensina actualmente português em Olivença, mas só no Ensino Primário, já que no Secundário tal não foi autorizado. E, claro, aprende-se o Português como algo um tanto "folclórico", algo de um tanto exterior à região. O velho Português alentejano, falado pelos idosos, é desvalorizado. Não há continuidade geracional.
A nível de consciência colectiva, o oliventino tem poucas referências. Os seus apelidos e a toponímia, sempre que possível, foram adulterados, traduzidos,"mudados". E não se vislumbram esforços no sentido de reverter tal situação.
Os apelidos " sobreviventes" são explicados das formas mais engenhosas possíveis. Por exemplo, é comum dizer-se que se tem um antepassado vindo de Portugal. Após falar aí com vinte oliventinos, quase metade afirma ser essa a origem do seu nome. Donde se conclui, com espanto, que das duas, uma: ou os locais têm pouca consciência de que os seus nomes eram todos portugueses na sua terra durante séculos e séculos, ou que vagas de imigrantes portugueses escolheram misteriosamente a região ~de Olivença para se instalarem...opção obviamente sem lógica.
Como se poderá imaginar, é desconcertante ouvir dizer que nomes como "Vidigal" ou "Valério" são espanhóis... principalmente nesta último caso, pois um dos heróis da resistência lusófona em Olivença chamava-se Vicente Vieira Valério, que, por não querer escrever em castelhano, ficou sem recursos para sobreviver. Contam-se pelos dedos das mãos os oliventinos que conhecem este facto histórico.
É chocante ouvir um professor de História de Olivença, de apelido Silva, dizer que os portugueses não devem reclamar o território, tal como os espanhóis não reclamam Campo Maior...mostrando ignorar que está a referir-se a uma falsificação da História.
Muitos outros exemplos poderiam ser dados, como o de se argumentar que o nível de vida é superior em Espanha ( nunca se diz que já foi superior em Portugal; nessa época, a Ditadura Franquista reprimia todo o sentimento português; e, claro, esquece-se que o nível de vida de Gibraltar é superior ao de Espanha), o de se dizer que Olivença só cresceu sob domínio espanhol (recorde-se que, em 1801, segundo autores espanhóis, Olivença era comparável a Elvaqs e Badajoz, e que no século XIX decresceu...mesmo porque muita população foi obrigada a refugiar-se em Elvas, Alandroal; Vila Viçosa, etc. ), ou o de se dizer que entre 1297 (Tratado de Alcañices) e 1801 Olivença foi território espanhol ocupado por Portugal...
Apenas os monumentos dão aos oliventinos alguma noção clara de que algo não-espanhol existiu na localidade... e mesmo assim com algumas confusões. O casario, tradicionalmente igual ao meridional português, vai sendo demolido ou abandonado. As chaminés alentejanas vão desaparecendo... bem como as janelas estritas e os "poiais".
As autoridades locais, mais "abertas" em Democracia que noutros tempos, não conseguem resolver tais contradições. Pelo menos os monumentos estão muito bem cuidados e aproveitados, o que só pode merecer rasgados elogios. Mas... são corpos sem "alma".
Todavia, mantêm-se vivos inúmeros preconceitos antiportugueses, baseados em concepções "culturais" absurdas, falseadas, mesmo xenófobas. Que não nasceram do acaso. Houve uma "desportugalização" intencional e legislada ( não esquecendo a proibição da língua desde o século XIX), variando de intensidade, mas sempre presente, e nunca esquecendo a repressão franquista, época em que tal política foi particularmente intensa.
É espantoso o que se pode encontrar em Olivença, se se aprofundar a Análise Histórica aos aspectos sociais, culturais, económicos, ou outros. É toda uma destruição de uma cultura, uma negação da História, uma perversão das consciências.
Dir-se-á que Olivença (com Táliga) é uma região de 453,61 quilómetros quadrados, e um caso pontual; como alguém já disse, uma "borbulha" nas relações luso-espanholas. Mas, todavia, uma "borbulha" com duzentos anos, tratada com tanto desrespeito na sua substância, submetida a tantos atropelos, não permite encarar com qualquer optimismo uma eventual União de Portugal e Espanha.
Talvez Madrid ainda não tenha compreendido, mas a sua persistência em não reconhecer dúvidas (di+plomáticas ) sobre a posse do Território, em "calar" qualquer queixa portuguesa, alimenta, e muito, aquilo que alguns consideram como um mito: o "Perigo Espanhol".
Mas diga-se também, em abono da verdade, e quase a concluir, que o "Perigo Espanhol", se existe, deverá ser também fruto do pessimismo português. O hábito d3e por t~udo e por nada se descrer das capacidades portuguesas, de se considerar que o País "não vale a pena", e que os portugueses são pouco inteligentes ou incapazes, não ajuda em nada à afirmação, saudável e NÃO CHAUVINISTA, de Portugal.
Veja-se o Caso de Olivença: há duzentos anos que se chora a sua ocupação, mas, para além do NÃO reconhecimento da legalidade espanhola no local, pouco se tem feito para corrigir a situação. Salazar, que tão nacionalista surge no pensamento de tantos, sabia o que o Franquismo estava a fazer na região: descaracterização total. E, todavia, nunca interpelou Franco a tal propósito.
Políticos e elites ( escritores, jornalistas, etc. ) continuam a evitar falar de Olivença. Como se receassem um anátema. Continuam sempre a considerar que não é o momento oportuno. E há duzentos anos que pouco se faz. Porque é politicamente incorrecto. Porque se conota com a Direite. Porque é de Esquerda. Porque as relações com Espanha são desfavoráveis ou más. Porque as relações com Espanha são óptimas. Porque não devemos perseguir ilusões.
"Não. As ilusões nunca são perdidas."- dizia BENTO DE JESUS CARAÇA - "Elas significam o que há de melhor na vida dos homeñs e dos povos. Perdidos são os cépticos que escondem sob uma ironia fácil a sua impotência para compreender e agir; perdidos são aqueles períodos de História em que os melhores, gastos e cansados, se retiram da luta sem enxergar no horizonte nada a que se entreguem."
Talvez o "Perigo Espanhol" esteja, afinal, nas limitações de cada um dos portugueses, que, abusivamente, as estendem a todo um povo.
Estremoz, enviado a 25 de Fevereiro de 2005
¡Viva España!
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