21 fevereiro 2009

Seres Decentes

"Quando cumpria o seu segundo mandato, Ramalho Eanes viu ser-lhe apresentada pelo Governo uma lei especialmente congeminada contra si. O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber. Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para a qual descontara durante toda a carreira. O desconforto de tamanha injustiça levou-o, mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor. Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros. Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados - e não aceitou o dinheiro. ..." Continue a ler no link do texto.
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Este post vem com atraso mas não posso deixar de editá-lo. Não é por divergir do pensamento político de Ramalho Eanes que vou deixar de sublinhar o extraordinário comportamento ético que teve o ano passado e que aqui bem realçou nesta boa crónica Fernando Dacosta na Revista Tempo Livre, do INATEL. Chamou-lhe Seres Decentes, o título não é meu.
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2 comentários:

**Viver a Alma** disse...

Sim! concordo em absoluto!
Ramalho Eanes foi um homem como há poucos....e quem o conhecesse melhor, sabe que o seu humor é de rir até doer a barriga!
Um dia quando o convidei - já não era Presidente mas Conselheiro de Estado - para a inauguração duma peça dum teatro nacional - no qual fui nomeada para dirigir o protocolo, a sala de imprensa e as relações públicas...sim..tudo isto - ele chegou atrasado porque tinha tido um jantar qualquer e a Drª Manuela Eanes pediu-me que lhe reservasse um lugar - caso o houvesse, porque estava esgotada a sala - porque no seu lugar ela tinha levado uma amiga.
"Estacionei-me" junto á porta de entrada - já com a peça iniciada - e eis que ele chega e disse:
- não me diga que estava á minha espera... - eu sorri. peguei-lhe positivamente na mão - como de dois amigos se tratasse e encaminhei-o para um lugar na 4ª fila - só havia aquele...um milagre!
Num dos intervalos, fui lá falar mais um pouco e perguntei-lhe quase em surdina...um pouco dsviada dos dmais que ali se encontravam:
-está mais gordo? O que é que aconteceu? Deixou de fazer a sua ginástica ou desistiu de ser vegetariano?
esposta pronta:
- Não M. é que lá em casa tem de haver uma ginástica financeira. De Verão engordo eu porque a Manuela tem mais problemas com o físico - praia e essas coisas. e no Inverno engorda ela e eu regresso á minha estatura normal!

E outras tantas que me ria sempre que estávamos juntos. um dia perguntei na frente dos dois:
- Drª Manuela este senhor seu marido é também assim em casa? - resposta:
- É pior M.! Mas todos já estamos habituados!

este M - era como me tratavam num diminutivo...ninguém mais me tratava assim!

Bom, Graza vou comer alguma coisa porque são já 15h...esqueço-me por vezes de me alimentar - já que sou diariamente "insuflada" como costumo dizer.
Nota última: não me pronuncio portanto se ele foi um bom ou mau político. O que vi, foi a preocupação e atenção que dava a todos e sobretudo aos mais desfavorecidos. E quando a DrªManuela iniciou o IAC, fui com ela organizar-lhe o gabinete. Depois saí, porque gostava mais de dar aulas e ballet e tive de fazer opções...mas nunca desistindo dos mais desfavorecidos, mas que não me tomam tanto tempo. Agora sim...estou liberta...é por isso que espero calmamente que o nosso fio de Prumo se decida! - srsrsr

Abraço
Bom domingo...hoje é domingo., não é?


Sempre...
Mariz

Graza disse...

Há para mim um valor que sobreponho à defesa de qualquer política e é o que mais vejo arredado do comportamento médio dos portugueses: a Ética. Foi por ter reconhecido em R. Eanes desde o início, esse grande valor, que em tempos acreditei que fosse possível transferir tudo aquilo para a política partidária nos moldes em que ela por cá era praticada. Enganei-me. Mas também já me enganei com o comportamento ético de muitos, noutros quadrantes da mesma luta, desde Abril de 74. Não é a política que define a qualidade intrinseca das pessoas, muitas vezes ela só lhes remenda mal algumas qualidades. Este post a Eanes é uma homenagem pela postura ética que não perdeu, mas não seria correcto se não dissesse que em Dezembro de 2006 editei sobre ele este texto, e subscrevo ainda o que escrevi: http://rendarroios.blogspot.com/2006/12/ramalho-eanes.html

Quanto ao IAC, ainda um dia destes lá passarei para saber se existe ainda algum exemplar para venda do catálogo que editaram de uma exposição das pinturas oferecidas por diversos pintores ao Instituto, ainda no tempo do mandato de Eanes, acho.


E claro, hoje foi Domingo! :)

Um abraço