Sendo este problema, nacional, seremos só nós em oposição à “Lei” das Rendas? Se não fosse um programa de TV, teríamos este debate? Ou beneficiamos do efeito de proximidade Campo Grande/Alvalade? Porque não haverá mais debates destes pelo País? Ou haverá? Se houver, teremos formas de contacto?
Com a actual e única estratégia que conheço de oposição à “Lei”, muita coisa é preocupante numa futura discussão. Uma preocupação é a do nível a que a parada subiu. Tanto na concepção da “Lei” (quase às escondidas, sem limites, todo o poder ao senhorio, e quanto mais depressa melhor), como na oposição à “Lei”, a parlamentar que quase teve que pedir desculpa para conseguir o que conseguiu, e a civil que pouco se manifestou, sendo que a que fizemos foi com as condicionantes que conhecemos não tendo optado por uma maior frontalidade no ataque à mesma. Outra, é a falta de informação, o tipo de informação e a consciência das pessoas de forma a poder-se levar a um mais forte e amplo movimento de inquilinos. A esta espécie de fenómeno de alheamento estarão ligados vários factores. Destaco dois: O primeiro, deriva do facto de tudo quanto são lutas políticas serem de um modo geral comandadas pelas máquinas partidárias, sindicais, corporativas etc., e neste capítulo a nossa luta é órfã. Contudo, esta orfandade pode beneficiar com o efeito do cruzamento do espectro político-partidário ou qualquer outro, porque o poder tem mais respeito por lutas às quais não pode colar etiquetas, facilmente desmontáveis, e também, porque se percebe melhor a justiça de um movimento espontâneo não tutelado, do que aquele que aceita a boleia de um qualquer pré-poder. O segundo, deriva dos fracos níveis de leitura política e económica do nosso cidadão. Não é por acaso que somos um dos países com menor índice de leitura de jornais e o nosso formato editorial privilegia a parangona e o sensacionalismo em detrimento da notícia, da análise, do estudo e tratamento criterioso de tantos dos verdadeiros problemas nacionais. A Televisão trata do que conhecemos (com honrosas excepções), a Rádio vai dando música e trânsito e o loby dos média faz o resto. A história do nefasto efeito do tradicional “laxismo” nacional que orgulhosamente chamamos de “brandos costumes”, está ainda por fazer. Se os acontecimentos aparecem sem espinhas já tratados na comunicação social, o povo adere e vai discutindo, se por outro lado for necessário desmontar acontecimentos, ler nas entrelinhas, antecipar raciocínios e à comunicação social não interessar, então difícil ou tardiamente o povo vai perceber o que realmente se está a passar e cai ingenuamente nesses alheamentos da coisa pública. É de facto também um problema de iliteracia. Concordo.
Assim, antes de focalizarmos o enquadramento em que entendemos deva ser feita a discussão de uma nova lei, devemos nós, que sem partido ou instituição que o faça por nós, tratar de espalhar este movimento não só pela freguesia, pela cidade, mas pelo País. É para já urgente o número, a “quantidade” de despertados, com eles virá o efeito “qualidade”, assim dizem as probabilidades.
Um movimento destes a nível nacional, sem enquadramentos, vai necessariamente produzir opiniões diversas, mas vai tender para a unanimidade naquilo que são os seus interesses, criando oposições frontais a alguma coisa parecida com a que estava em gestação, contrariando a espécie de conformismo que de alguma forma estava ditado pelo tal síndrome do “Titanic a afundar” que se verificou na nossa subscrição. Não deveremos ter receio do debate público, é dele que pode vir a melhor ajuda. Logo, há estas duas questões que devem ser dinamizadas em paralelo: A “forma” do movimento de inquilinos, e, O “conteúdo” da reforma da lei.
Agora que a pressão aliviou teremos mais tempo para abordagem especializada, não se torna tão urgente como quando o “Titanic estava a afundar”, o que não é o mesmo que dizer: temos tempo! Procuremos então ajuda, aceitemos as opiniões de algumas elites que comprovadamente já mostraram que sabem elencar de uma forma correcta as exigências de uma lei justa. Se já há nomes façamos um esforço para os conseguir reunir, sem os publicitar, porque isso pode não ser do interesse próprio, e de forma que urgentemente possam comunicar e trabalhar sobre a questão.
É sempre possível que a colaboração entre nós, da forma como alguns propõem, vá esboçando um texto, o mais consensual possível, sabendo o que todos sabemos que é injusto, contudo, essa colaboração se bem que útil e quase obrigatória não deveria passar disso mesmo. Por alguma razão delegamos em gente amiga da causa essa função de lavrar os textos finais e adequados.
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