20 maio 2006

Manuel Maria Carrilho


Vou na página 76/207 do livro “Sob o signo da verdade” de M. M.Carrilho e tenho estado a contrariar a enorme vontade de, antes de concluir a leitura, deixar o meu testemunho do que me pareceu que aconteceu. Também eu entendo que houve uma operação sibilina, porque eu vi o mesmo que todos viram e a desproporção entre o que vi e o eco que me chegava era um verdadeiro absurdo.

Desde muito cedo, aprendi a leitura das entrelinhas do que se ía dizendo na nossa comunicação social em geral. Foi no regime anterior em que ía comparando os factos que vivia, com o relato deles. Não sou por isso influenciado por editoriais e artigos de opinião dos novos escribas que quanto melhor se portam melhor o dono os recompensa. Nesta questão de Carrilho, fui sobressaltado um dia com este telejornal. Para além do gáudio demonstrados ali, confirmava-se a evidente falta de isenção daquele telejornal, perante aquele candidato. Mas o livro acrescenta agora mais, e vem revelar que também aqui, Portugal está doente. O que se diz é grave – e não o tendo como invenções do ex-candidato – isto vem confirmar alguma coisa já pressentida antes. Somos de facto um país pequeno para tantos a comer do mesmo saco: há consaguinidade no nosso jornalismo. Felizmente apareceram os blogs como alternativa, porque cada vez mais não sabia o que comprar para ler. Está a acabar a época da ética no grande jornalismo. Querem um exemplo? A primeira página do Jornal Independente da semana passada: “Mais um livro do Carrilho”, a leitura que se induz é: “Mais um livro do car_lho”. Foi assim que muitos de nós lemos a parangona. Ontem mesmo, em duas dessas revistas que aparecem hoje e dasaparecem amanhã, lá estavam os editoriais soêzes e despeitados, porque se lhes está a tocar na capelinha.

Não deixa no entanto de ser preocupante que muitos portugueses não respeitem a autonomia que cada um quer por na sua vida. Se não se afinar pelo mesmo acorde, aqui d’El Rei! Estrangeirismos! Um alvo a abater! Se acarneirarmos, não sairmos da fila, seremos gente respeitável. Continuamos deficitários do pensamento autónomo que nos pode desenvolver. Se publicamente nos confrontamos com uma onda cretina qualquer, existe o medo, o tal do José Gil, e não somos capazes de ousar, porque a nossa autonomia é imberbe. Não defendo Carrilho por contraponto disto, mas porque sinto verdadeiramente que o que se passou e está a passar é mais grave do que à partida parece. Parabéns Prof. Manuel Maria Carrilho pela coragem de ter dito o que muitos não conseguem. Leia-se, Medeiros Ferreira, aqui: O fim da Idade da Inocência.

Quem emitiu opinião sem ler o livro, pelo menos até esta página, deveria fazer um acto de contrição e arranjar “coragem” para o ler. E depois, só depois, dizer se concorda ou não que o país esteja neste estado jornalístico.


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