05 dezembro 2007

Saramago, cada vez menos.

O recente documentário da SIC sobre Saramago, é uma entrada na sua vida privada e centra-se na sua aparição pública apesar de doente e muito debilitado, na inauguração da exposição sobre a sua vida, e de uma Casa museu. Ao mesmo tempo, ficamos a saber que está a ser acompanhado há mais de ano por um operador com uma câmara em permanência, para corresponder a um projecto cinematográfico de Pedro Almodôvar, cujo título ou tema julgo ter ouvido bem, é a União Ibérica. Isto, depois de termos tido o espanhol Carlos Saura a levar só da Câmara de Lisboa um milhão de euros, mais não sei quanto do Turismo de Portugal, para nos fazer um filme sobre o fado que só consigo ver na sala 2 do espanhol El Corte Inglês, é obra!

Se juntarmos todas as declarações que têm sido produzidas, também por ele, neste espaço de tempo, verificamos que alguma coisa tem andado a ser “trabalhada” para produzir esse efeito do levantamento da questão Ibérica, e a inauguração agora de uma casa de cultura portuguesa em Lanzarote com parte dos seus bens pessoais, por um ministro espanhol, é, em termos culturais, uma cena patética.

Saramago deixa em Espanha um produto cultural português que deveria ter curado de deixar em Portugal. Não lhe perdoo mais esta, como não lhe tinha perdoado declarações anteriores, porque não foram os espanhóis que se ofenderam com as afrontas de Sousa Lara, ministro de Cavaco Silva, mas sim os portugueses que manifestaram essa revolta, como aqui, “... o que temos sabido fazer, é correr com gente boa só porque alguma pretensa sujidade se lhes pegou. São tantos os exemplos que é mau dizer, para não excluir, mas ainda assim não posso deixar de referir três nomes: Saramago. Prémio Nobel. Foi corrido por um farçola de um tal Sousa Lara que desde aí, o que tem feito é andar com a justiça à perna ...”, ou aqui, “...estas “personalidades” que ajudei a dignificar, bramindo contra os odientos Laras dos consulados Cavaco, os tais que lhe vedaram então o acesso há Europa." , pelo menos até ao momento em que começou a iberizar o discurso e a revelar muito pouco sentido da Pátria em que nasceu. Já era tempo de deixar de se sentir perseguido, o Lara já cá não anda há muito e Cavaco já deve estar arrependido.

5 comentários:

Anónimo disse...

cara graza, denota alguma ignorância no que toca a Saramago e os motivos que o levaram a "fugir" para Espanha, sem ofensa.
Nunca foi respeitado ou reconhecido em portugal...E como "quem está mal, muda-se", não se chore sobre o leite derramado.
Para se ser nobel da literatura, quem precisa desta merda afinal? Nem sequer de nacionalidade!
Eu faria o mesmo!

tacci disse...

Sabe, Grazza, não me parece que só Sousa Lara tivesse importância suficiente para correr daqui com o José Saramago.
Consta por aí, pelos mentideros, que há mais razões e algumas bem mais graves por virem dos seus próprios correlegionários.
E quanto ao iberismo, não é um pecado assim tão grave: Portugal e as nações a que, tradicionalmente, se chama Espanha, têm um passado de tradições e de cultura em comum, têm a aventra das descobertas em que andaram lado a lado, têm a resistência aos franceses em que se apoiaram mutuamente, têm a guerra de Espanha em que lutaram todos de ambos os lados. E moveu grandes intelectuais, pelo menos do nosso lado.
A Ibéria - ou como se lhe queira chamar - pode ser apenas uma forma de continuar esta aventura comum.
Não me parece que signifique a perda da nossa identidade.
Mas, claro, posso estar em erro.
Um abraço.

Graza disse...

Já estou habituado Tacci a esta fraca força de sentir Portugal e a ver entre os meus a benevolência que não encontro do outro lado, numa espécie de amor não correspondido que foi a génese que nos manteve ordeiros e submissos e permitiu que três reis de Castela aqui mandassem. Mas também sei que é difícil obrigar alguém a um sentir pelo que não tem.

É preciso não nos esquecermos que no jantar de comemoração da vitória da Falange de Franco, na Guerra Civil, o grito final de braço no ar foi: “E agora, a Lisboa, a Lisboa!”.

Saudações

tacci disse...

Agradeço-lhe a sua resposta porque me permite perguntar uma coisa: o que é uma fronteira? Porque será que a Srª. do Almurtão tem de virar costas a Castela? Que há rivalidades entre freguesias vizinhas não é novidade. Mas será legítimo arvorar essas rivalidades locais, entre Aveiras de Cima e Aveiras de Baixo, em questões nacionais?
Pessoalmente julgo que não.
Um galego e um trasmontano falam quase a mesma língua, e um barranquenho não é entendido nem de um lado nem do outro.
O que é que nos divide então?
Interesses pontuais? As ideologias?
Quando um franquista grita - como muito bem citou - "Agora a Lisboa", quem assim grita, quem é? Não será esse que deve ser combatido e não o Antero de Quental ou o Oliveira Martins?
Faço estas perguntas porque, confesso-lhe, não sei as respostas.
Para mim é um tema em aberto.
Um abraço.

Graza disse...

Caro Tacci, desculpe-me continuar na forma de um novo post mas era para mim importante acrescentar um pouco mais de uma forma mais visivel.

Saudações Natalícias.