(Reeditado)
Como se pode verificar, não fiz aqui a migração para a nova ortografia estabelecida pelo Acordo Ortográfico (AO) de 1990, nem decidi ainda o momento. Tanto quanto sei, decorre até 2015 um período de transição para que tenhamos tempo de nos adaptarmos, sendo até lá válidas as duas grafias. Tive na questão do AO alguma renitência inicial, resolvida depois de ponderação, ajudado pelo exemplo do que foi também a polémica da última revisão no tempo do Pessoa, hoje pacífica. Convenhamos que não tenho nesta matéria formação bastante para argumentar com o suporte com que vejo alguns fazê-lo, mas também o que mais vejo são exemplos dados por quem se nota que nem o leu, e se resulta como intoxicação, também diz da má-fé de muitos. Resolvi, assim, colocar a uma amiga da área das Letras a seguinte questão:
Como se pode verificar, não fiz aqui a migração para a nova ortografia estabelecida pelo Acordo Ortográfico (AO) de 1990, nem decidi ainda o momento. Tanto quanto sei, decorre até 2015 um período de transição para que tenhamos tempo de nos adaptarmos, sendo até lá válidas as duas grafias. Tive na questão do AO alguma renitência inicial, resolvida depois de ponderação, ajudado pelo exemplo do que foi também a polémica da última revisão no tempo do Pessoa, hoje pacífica. Convenhamos que não tenho nesta matéria formação bastante para argumentar com o suporte com que vejo alguns fazê-lo, mas também o que mais vejo são exemplos dados por quem se nota que nem o leu, e se resulta como intoxicação, também diz da má-fé de muitos. Resolvi, assim, colocar a uma amiga da área das Letras a seguinte questão:
“Acabo de ouvir o Manuel Alegre e o Bagão Félix, na RTP, falarem sobre o Acordo Ortográfico, e porque tocaram num ponto que é uma dúvida que tenho desde o início: ou seja, o da evolução futura da língua, uma vez que é falada por tantos milhões de diferentes culturas, e tendo este AO sido agora feito com base na predominância da língua falada no Brasil onde a dominante evolutiva é de base oral, - forma evolutiva esta, ditada pela abrupta expansão do português motivado pela chegada do nosso Rei D. João, ao Brasil, que daqui partiu apressadamente não levando consigo manuais que tivessem permitido que essa evolução se fizesse na base correcta. E pergunto: Como se dará no futuro essa evolução? No final, e em tom depreciativo, o Bagão brincou depois com uma frase cacofónica: "Não me pelo pelo pelo de quem não para para reflectir." Ou seja: "Não me pélo pelo pêlo de quem não pára para reflectir." Como se desmonta isto?"
E aqui fica a resposta que eu teria dificuldade em dar com esta clareza:
"Quanto ao preconceito anti-acordo dos que lamentam a alegada cedência ao Brasil, deixa-me só dizer-te que se houvesse predominância pela oralidade brasileira, até que nem seria mau de todo para a preservação da língua portuguesa. Eles abrem as vogais, dizem todas as sílabas, enquanto nós, portugueses, sobretudo os da região de Lisboa, tendemos a fechar as vogais, correndo-se o risco de excessiva consonantização da língua... Os militantes anti-acordo gostam muito de arranjar essas frases improváveis para o descredibilizar. Não te esqueças de uma coisa: antes de aprender a ler, já falávamos. E os analfabetos que ainda há – cada vez menos, felizmente – não deixam de abrir ou fechar as vogais por elas se escreverem com ou sem acento." E aqui introduzo eu já um exemplo: “(fulana) é tola da tola!”. "Mais: o pessoal do Porto, mesmo com acento, diz o verbo cantar da mesma maneira seja no presente seja no passado... Até a Fátima Campos Ferreira, há tantos anos em Lisboa, continua a dizer falamos/falámos cantamos/cantámos da mesma maneira. E quanto à frase do Bagão Félix, não sei como é que ele disse o 2.º "pelo", mas o que mais ouço é as pessoas pronunciarem de forma igual ao “pêlo” de um animal, o que não está certo no português europeu, já que se deve fechar a vogal na contracção da preposição POR + o artigo O/A/OS/AS.
No caso das palavras homógrafas e homófonas, “antes e depois do AO” há o CONTEXTO, que em situações de comunicação real ajuda a desfazer ambiguidades. Vejamos, por exemplo: “as partes conseguiram um bom acordo” por contraponto a: “todos os dias acordo às 7.00h da manhã”. Mesmo sem acento, parece que ninguém terá dúvidas sobre como se pronuncia e qual o sentido e a função morfossintáctica da palavra “acordo” em cada uma das frases."
No caso das palavras homógrafas e homófonas, “antes e depois do AO” há o CONTEXTO, que em situações de comunicação real ajuda a desfazer ambiguidades. Vejamos, por exemplo: “as partes conseguiram um bom acordo” por contraponto a: “todos os dias acordo às 7.00h da manhã”. Mesmo sem acento, parece que ninguém terá dúvidas sobre como se pronuncia e qual o sentido e a função morfossintáctica da palavra “acordo” em cada uma das frases."
Parece assim que a questão do “contexto” não é tão desprezível para quem queira fazer entender-se e falar do AO sem condições prévias, nem a exibição de frases armadilhadas por inusitadas cacofonias.
Reedição: O link do vídeo com a opinião de José Saramago, foi deixado em comentários mas merece bem fazer parte do corpo do post:
Reedição: O link do vídeo com a opinião de José Saramago, foi deixado em comentários mas merece bem fazer parte do corpo do post:
5 comentários:
Quando tenho dúvidas, hesitações ou simplesmente não tenho opinião, consulto meu mestre. Já opinou sobre tudo. Talvez sem querer, mas porque lhe perguntaram...
http://mais.uol.com.br/view/139166
É tão importante o que diz Saramago neste vídeo que vou colocá-lo no post. Obrigado Rogério.
De facto, é uma pena que a coisa atinja proporções tão estremadas. Volta e meia descubro pessoas que prezo do lado oposto, com animosidades pouco razoáveis.
Saudações.
Foquemos então as nossas energias para as coisas importantes, porque nestas basta um pouco de bom-senso
Abraço
Obrigada pelo vídeo com a posição de José Saramago.
Sim Nalita mas foi mérito do Rogério Pereira.
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