01 março 2012

Porque não fui à manif:

Uma pesquisa neste blogue que devolva textos sobre a Esquerda, mostrará a coerência de que aqui não escrevo contra ela, salvo quando foi preciso deixar claro a discordância. Isso não invalida que não tenha de cada partido de Esquerda uma análise crítica em cada momento do seu desempenho. O que pretendo evitar sempre é dar trunfos à Direita, não alimentando campanhas. Ao contrário, custa-me assistir ao permanente ataque e ao digladiar constante por um eleitorado comum.

Os tempos que correm, estão entre nós a provocar inconformismo, e se há inquietação, há também dúvida quanto aos métodos de contestação a seguir. Sou naturalmente dos inquietos mas também dos que duvidam dos métodos, ainda que o pense numa luta permanente entre uma formação pessoal tolerante, e uma enorme tendência para aceitar falar de revoluções, com todos os custos que implicam.

O avançar da idade atribui nas tendências políticas de cada um, uma valorização extremada à estabilidade e à segurança, acabando por sedimentar opções políticas conservadoras dentro de cada espectro, à Direita e à Esquerda. Do que agora aqui importa é esse efeito na Esquerda. Ora, sabemos como a Direita tem horror ao que não pode controlar, e temos ouvido recentemente como tolera bem a luta dos que se mantêm dentro do quadro institucional vigente. O actual quadro sindical é dado até por eles, como exemplo, porque são com essa previsibilidade o melhor tampão a qualquer coisa que não querem que aconteça. A Esquerda é assim desta forma encurralada. Controlada. E é aqui que começa a minha falta de entusiasmo com o “desfile organizado de rua”, cujo último grande resultado verificado acaba por cair apenas na exibição do número, contando espingardas. Não quero sair à rua desta forma para ser apenas exibido como um número com o qual a Direita pode muito bem. Como nunca me obrigo a nada, porque detesto fazer o que não faço com vontade, prefiro a distância que me permite interpretar de outra forma.

O espírito de liberdade que reclamo não me tem permitido o enfileiramento partidário, porque me baliza as opções, - excepto em ocasiões pontuais onde alguma utopia me pareça fazer caminho. Estive aqui na rua com estes, com empenhamento, e também aqui no Parlamento, mas também colaborei e fiz parte desta força cívica e voltei a integrar esta, e estarei sempre onde as cores da Esquerda se misturarem sem sectarismos, e sou por essa razão um fortíssimo opositor dos que fazem a desmobilização à Esquerda, não libertando os seus, ou criando vergonhosas iniciativas paralelas com o mesmo fim, apenas e só para que não haja desvios nos fiéis. Como podem depois pedir-me que os acompanhe, quando o objectivo, visto desta forma, não deixa de passar a ser mais um record para o livro dos números? Não sei se vale a pena referir a quem esta acusação é feita, porque ela é por demais, óbvia.

É assim, numa quase transversalidade política que apela a um ponderado pragmatismo, que melhor me sinto a exercer a cidadania que reclamo. Bem sei que esta reflexão não se enquadra nas bíblias políticas em uso, e que a transposição da Democracia para a organização política das sociedades tem outras formas mais exequíveis de se porem em prática, se bem que ande a precisar de uma urgente refundação, mas antes de considerarem a minha uma forma bizarra, preferia que a vissem antes como uma derivação nem sempre muito fácil de explicar.

2 comentários:

folha seca disse...

Caro Graza
Pouco austero em fazer comentários nos seus sempre excelentes posts, hoje sinto que devo fazer um. Ou seja, dizer que me revejo por inteiro no seu texto. Afinal já estivemos juntos fisicamente nalguns lugares e virtualmente noutros.
Um abraço
Rodrigo

Graza disse...

Caro Rodrigo:

Aproveito para visitá-lo e respondo-lhe lá ao comentário.

Um abraço